O respeito à dor do próximo é o início de toda
ajuda efetiva. Se não for possível fazer mais nada, a ausência de críticas,
julgamentos e conselhos milagrosos já será de grande valia!
O
sofrimento moral não é algo palpável, comparável ou mensurável. Se algumas
características físicas e/ou emocionais são comuns a várias pessoas, o conjunto
delas é único. É isso que torna uma pessoa especial e inconfundível, como suas
impressões digitais. Assim, o que pode ser um incômodo para alguns, para outros
pode ser um sofrimento incapacitante.
Os
portadores das dores ocultas, como depressão, fibromialgia, síndrome do pânico
e outros tormentos emocionais, são os que mais conhecem a agressão desses
conselhos milagrosos. Uma mulher depressiva deve sentir ímpetos de
avestruz (leia-se "com vontade de
esconder a cabeça em um buraco") quando alguém sugere: "Passa um
batonzinho que você vai se sentir melhor". Quando se perde a vontade de
qualquer coisa, um batonzinho é o que menos se quer. Imagine ainda uma pessoa com dores
generalizadas pelo corpo e articulações, como os portadores de fibromialgia,
ouvindo: "Se você fizer uma atividade física, vai sarar". Quando o
menor movimento desencadeia dores
progressivas, uma simples caminhada pode ser comparada a uma tortura com
requintes de crueldade. E deve ser um tormento para alguém que sofre de
síndrome do pânico ter que ouvir frases como: "Isso é falta de coragem de
enfrentar os próprios medos!".
Infelizmente,
o ser humano tem a característica defensiva de criticar o que não conhece.
Inconscientemente, é a maneira de se proteger da insegurança provocada por algo
que não se sabe explicar a causa e as consequências. Ou por algo com que se
identifica, mas que é perturbador demais. A consciência desse processo é de
extrema importância para se conviver com a dor alheia e, também com as próprias
dores, muitas vezes negadas por vergonha e receio do julgamento alheio.
Ser
forte não implica em ausência de sofrimento, mas na decisão de continuar
vivendo da melhor forma possível em meio às próprias tormentas. Assim como ser
corajoso não significa não ter medo, mas sim enfrentar seus temores como quem
enfrenta uma inimigo mortal. Portanto, quando encontrar uma pessoa em
sofrimento por algum motivo que você desconhece ou julga insignificante,
simplesmente ofereça seu abraço, um toque suave ou um copo de água, que pelo
menos é uma forma de mostrar que quer aliviar sua dor. Mas se você não
conseguir fazer nada disso, sem comentários desastrosos, simplesmente afaste-se
discretamente. E aproveite a a oportunidade para questionar-se por que essa
situação o incomodou tanto. E tenha a coragem de reconhecer que, provavelmente,
você também está precisando de ajuda.